A ialorixá do Gantois, Mãe Carmem, recebeu, no último 30, a Medalha dos Cinco Continentes, outorgada pela Unesco. A condecoração foi levada até o Gantois pelo presidente do Conselho Executivo da Unesco e delegado permanente do Benin na instituição, embaixaor Olabiyi Babalola Joseph Yai. A condecoração é dada a instituições que promovem diálogo intercultural, respeitam outros credos e não fazem proselitismo.
Mãe Carmem recebeu também a faixa da Sociedade Secreta Geledé e a Maié Oxum do Gantois, Márcia de Souza, foi condecorada com a Medalha Toussaint Louverture. A comenda que faz uma homenagem ao líder da libertação do Haiti é oferecida a pessoas que desempenham atividades de conscientização e promoção das culturas africanas.
Mãe Carmem está comemorando oito anos no comando do Gantois.
Fonte: Mundo Afro
Blog para apresentar, discutir e comentar sobre as diferentes manifestações de preconceito na fala.
sábado, 19 de junho de 2010
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Justiça Guaraní
Ao impedir tradutor para índios durante um julgamento, juíza reacende o debate sobre a liberdade de idiomas no Brasil
Leonardo Fuhrmann
Rito em Mato Grosso do Sul: caso do cacique morto alimentou polêmica depois que Justiça vetou o uso de idioma guarani em juízo
O júri de três acusados de assassinar a pauladas o cacique Marcos Veron, de 72 anos, foi suspenso em 4 de maio. A notícia provocou interesse não só no meio judicial, mas entre os sociolinguistas, em uma discussão que mistura direitos constitucionais, preconceito, respeito às tradições e o direito a comunicar-se em sua própria língua.
Porque a juíza Paula Avelino Mantovani não permitiu que os índios prestassem depoimento em guarani, o procurador da República Vladimir Aras decidiu abandonar o julgamento. Agora, ele garante que vai recorrer, se necessário, até ao Supremo Tribunal Federal (STF), para garantir aos índios o direito de serem ouvidos em seu idioma de origem. Um novo julgamento foi marcado apenas para o ano que vem.
Estevão Romero, Carlos Roberto dos Santos e Jorge Cristaldo Insabralde eram funcionários da fazenda Brasília do Sul, em Jutaí, no Mato Grosso do Sul. Na região, são comuns os conflitos agrários entre fazendeiros e índios. Ao lado de Nivaldo Alves Oliveira, que está foragido, os três são acusados de invadir a tribo e atacar os índios na madrugada, entre 12 e 13 de janeiro de 2003. Além do brutal assassinato do cacique Marcos Veron, os homens são acusados de outros seis sequestros, todos também seguidos de tentativas de assassinato.
Transferência
A tensão com os não índios e o forte preconceito contra os índios na região fizeram com que o Ministério Público Federal (MPF) pedisse a transferência da cidade de Dourados.
O pedido foi aceito e o julgamento foi então marcado para São Paulo (SP).
Para garantir que os índios fossem compreendidos ao longo do julgamento, o pesquisador Tonico Benites foi indicado pela Funai e nomeado pela Justiça como intérprete dos indígenas.
Benites é um índio guarani que faz doutorado em antropologia na UFRJ. Mais do que fazer a mera tradução de palavras, o seu trabalho serviria como elo entre culturas distintas e em choque.
Apesar de conviver com não índios há trinta anos, por conta de trabalhos acadêmicos, Tonico Benites diz que a experiência não reduziu seu mal-estar de participar pela primeira vez de um júri.
- Para nós, guaranis, a conversa é um encontro entre duas almas. Se você fala alto, assusta a alma do outro. E no julgamento se grita muito, além de usar-se de um gestual agressivo - afirma Benites.
O cacique Veron morreu aos 72 anos: julgamento só em português
Pensar guarani
O intérprete observa que outras características de um julgamento são incômodas para os índios, como o isolamento e a proibição de que testemunhas e vítimas conversem entre si.
- Para nós, quando falamos de alguém que morreu, a alma da pessoa fica presente no lugar. Por isso, é duro relembrar uma história dessas perante os demais companheiros e a pessoa que foi assassinada - completa o tradutor.
Segundo Benites, a construção do discurso é diferente entre o português e o guarani.
- O não índio fala de uma forma bastante direta. O guarani costuma explicar outras situações e contar histórias mesmo quando vai responder a uma pergunta simples - diferencia ele.
Para o intérprete, os índios já estavam em desvantagem no ambiente judicial e a obrigação de falar em português seria uma derrota ainda maior.
- A sala estava cheia de advogados e fazendeiros e a gente nem sabia quem era advogado e quem era fazendeiro, porque lá eles estavam todos iguais - diz Benites.
A juíza
Para a juíza Paula Avelino Mantovani, um intérprete só deveria ser usado quando uma dada testemunha não compreendesse o que lhe era perguntado ou não conseguisse expressar algum trecho de seu relato em português.
A juíza lembrou que os mesmos índios já haviam sido ouvidos em português em outras fases do processo e criticou o gesto que forçou o adiamento do júri.
"Não cabe aqui a discussão acerca do acerto ou não da decisão proferida. Para isso há os recursos adequados. Lamenta-se, porém, a atitude do Ministério Público de, em absoluta afronta aos princípios democráticos, abandonar o plenário em total desrespeito aos advogados de defesa, aos jurados, aos presentes e à administração da Justiça, mormente em se considerando os vultosos recursos já empregados por esta Justiça para realização do Júri, desaforado da subseção de Dourados", escreveu a juíza.
Retirada
Paula Mantovani remarcou o julgamento, sob a alegação de que a Justiça Federal não tem recursos para bancar, de novo neste ano, o transporte, a hospedagem e a alimentação de réus, vítimas e testemunhas do caso. O júri já havia sido adiado em abril, devido à ausência do advogado de defesa, que alegou problemas de saúde. Desta vez, no entanto, a juíza defendeu que o procurador seja responsabilizado pelos eventuais danos causados ao erário público. Procurada por meio da assessoria de imprensa da Justiça Federal em São Paulo, a juíza não quis dar entrevistas sobre o caso.
O procurador Aras entende que abandonar o júri foi a maneira de garantir aos índios o direito de comunicar-se no julgamento. Ele já recorreu ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) contra a decisão da juíza e garante que, se necessário, vai ao Supremo. Segundo o MPF, a Constituição Brasileira e tratados internacionais garantem às etnias minoritárias de um país o direito de usar seu idioma nativo. O procurador lembra que o Estado não pode impor um idioma às minorias, num tipo de comportamento que já fez o Brasil perder parte de sua diversidade cultural. E rebateu o argumento de que as vítimas e testemunhas já haviam sido ouvidas em português em outras fases do processo.
- Não é por que foi feito errado outras vezes que o problema pode repetir-se. É como dizer que, se eu invado a sua casa uma vez, posso invadi-la sempre - compara.
Sociolinguística
O professor José Ribamar Bessa Freire lembra que, mesmo para pessoas com boa formação em português, a linguagem usada nos tribunais pode ser de difícil compreensão, por ser hermética. Freire faz parte do grupo de trabalho de sociolinguística da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (Anpoll), é consultor do MEC para educação indígena e coordena o programa de estudos dos povos indígenas da Faculdade de Educação da Uerj.
O pesquisador compara o caso aos estrangeiros presos nos aeroportos, que têm o direito de defender-se em sua língua materna, mesmo quando tenham noções de português, obtidas no contato com outros presos.
- Gostaria que a juíza fosse chamada a responder a uma corte internacional e lá a impedissem de defender-se em português. Mesmo com fluência em outros idiomas, vai sentir uma dificuldade semelhante à que está impondo aos guaranis - diz.
Direito guarani
Línguas indígenas já são reconhecidas como cooficiais em países como Peru, Equador e Bolívia. Mas um fosso separa as concepções de Direito das culturas locais. Um juiz argentino, Manoel Moreira, chegou a fazer um estudo sobre a cultura jurídica guarani e mostrou como há diferenças conceituais com o Direito trazido por portugueses e espanhóis.
- Ele cita o caso de uma índia de 40 anos que matou outra, de 15, a facadas. Na Justiça não índia, ela foi condenada. Depois que cumpriu pena, voltou à tribo e foi julgada com base na cultura guarani. Acabou inocentada e o marido, que havia tido um relacionamento com a garota, condenado - exemplifica Freire.
Na sua língua
O linguista explica que o conceito de Justiça dos guaranis está na solução de conflitos e não na punição do causador do dano. Para ele, a imposição do direito alheio já seria em si uma violência e uma arbitrariedade.
- Aceitar que eles se comuniquem em sua língua materna é uma forma de fugir de um julgamento preconceituoso, pois reduz a impotência do índio perante a Justiça e lhe dá confiança. Isso é fundamental para quem está em busca da verdade real - opina Freire.
Ele destaca que, mesmo sem as diferenças culturais que separam índios e não índios, é mais fácil para as pessoas se comunicarem em sua língua materna, na qual pensam
e sonham.
- Poucos alcançam um nível de bilinguismo que lhes dá a capacidade de raciocinar em um segundo idioma, de coordenação. Geralmente, há uma subordinação à língua materna. Mesmo dentro da subordinação, há diferentes graus de biliguismo - afirma.
Por isso, seria necessário um intérprete capaz de conhecer as nuances dos dois idiomas que estão sendo usados. O caso prossegue.
Leonardo Fuhrmann
Rito em Mato Grosso do Sul: caso do cacique morto alimentou polêmica depois que Justiça vetou o uso de idioma guarani em juízo
O júri de três acusados de assassinar a pauladas o cacique Marcos Veron, de 72 anos, foi suspenso em 4 de maio. A notícia provocou interesse não só no meio judicial, mas entre os sociolinguistas, em uma discussão que mistura direitos constitucionais, preconceito, respeito às tradições e o direito a comunicar-se em sua própria língua.
Porque a juíza Paula Avelino Mantovani não permitiu que os índios prestassem depoimento em guarani, o procurador da República Vladimir Aras decidiu abandonar o julgamento. Agora, ele garante que vai recorrer, se necessário, até ao Supremo Tribunal Federal (STF), para garantir aos índios o direito de serem ouvidos em seu idioma de origem. Um novo julgamento foi marcado apenas para o ano que vem.
Estevão Romero, Carlos Roberto dos Santos e Jorge Cristaldo Insabralde eram funcionários da fazenda Brasília do Sul, em Jutaí, no Mato Grosso do Sul. Na região, são comuns os conflitos agrários entre fazendeiros e índios. Ao lado de Nivaldo Alves Oliveira, que está foragido, os três são acusados de invadir a tribo e atacar os índios na madrugada, entre 12 e 13 de janeiro de 2003. Além do brutal assassinato do cacique Marcos Veron, os homens são acusados de outros seis sequestros, todos também seguidos de tentativas de assassinato.
Transferência
A tensão com os não índios e o forte preconceito contra os índios na região fizeram com que o Ministério Público Federal (MPF) pedisse a transferência da cidade de Dourados.
O pedido foi aceito e o julgamento foi então marcado para São Paulo (SP).
Para garantir que os índios fossem compreendidos ao longo do julgamento, o pesquisador Tonico Benites foi indicado pela Funai e nomeado pela Justiça como intérprete dos indígenas.
Benites é um índio guarani que faz doutorado em antropologia na UFRJ. Mais do que fazer a mera tradução de palavras, o seu trabalho serviria como elo entre culturas distintas e em choque.
Apesar de conviver com não índios há trinta anos, por conta de trabalhos acadêmicos, Tonico Benites diz que a experiência não reduziu seu mal-estar de participar pela primeira vez de um júri.
- Para nós, guaranis, a conversa é um encontro entre duas almas. Se você fala alto, assusta a alma do outro. E no julgamento se grita muito, além de usar-se de um gestual agressivo - afirma Benites.
O cacique Veron morreu aos 72 anos: julgamento só em português
Pensar guarani
O intérprete observa que outras características de um julgamento são incômodas para os índios, como o isolamento e a proibição de que testemunhas e vítimas conversem entre si.
- Para nós, quando falamos de alguém que morreu, a alma da pessoa fica presente no lugar. Por isso, é duro relembrar uma história dessas perante os demais companheiros e a pessoa que foi assassinada - completa o tradutor.
Segundo Benites, a construção do discurso é diferente entre o português e o guarani.
- O não índio fala de uma forma bastante direta. O guarani costuma explicar outras situações e contar histórias mesmo quando vai responder a uma pergunta simples - diferencia ele.
Para o intérprete, os índios já estavam em desvantagem no ambiente judicial e a obrigação de falar em português seria uma derrota ainda maior.
- A sala estava cheia de advogados e fazendeiros e a gente nem sabia quem era advogado e quem era fazendeiro, porque lá eles estavam todos iguais - diz Benites.
A juíza
Para a juíza Paula Avelino Mantovani, um intérprete só deveria ser usado quando uma dada testemunha não compreendesse o que lhe era perguntado ou não conseguisse expressar algum trecho de seu relato em português.
A juíza lembrou que os mesmos índios já haviam sido ouvidos em português em outras fases do processo e criticou o gesto que forçou o adiamento do júri.
"Não cabe aqui a discussão acerca do acerto ou não da decisão proferida. Para isso há os recursos adequados. Lamenta-se, porém, a atitude do Ministério Público de, em absoluta afronta aos princípios democráticos, abandonar o plenário em total desrespeito aos advogados de defesa, aos jurados, aos presentes e à administração da Justiça, mormente em se considerando os vultosos recursos já empregados por esta Justiça para realização do Júri, desaforado da subseção de Dourados", escreveu a juíza.
Retirada
Paula Mantovani remarcou o julgamento, sob a alegação de que a Justiça Federal não tem recursos para bancar, de novo neste ano, o transporte, a hospedagem e a alimentação de réus, vítimas e testemunhas do caso. O júri já havia sido adiado em abril, devido à ausência do advogado de defesa, que alegou problemas de saúde. Desta vez, no entanto, a juíza defendeu que o procurador seja responsabilizado pelos eventuais danos causados ao erário público. Procurada por meio da assessoria de imprensa da Justiça Federal em São Paulo, a juíza não quis dar entrevistas sobre o caso.
O procurador Aras entende que abandonar o júri foi a maneira de garantir aos índios o direito de comunicar-se no julgamento. Ele já recorreu ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) contra a decisão da juíza e garante que, se necessário, vai ao Supremo. Segundo o MPF, a Constituição Brasileira e tratados internacionais garantem às etnias minoritárias de um país o direito de usar seu idioma nativo. O procurador lembra que o Estado não pode impor um idioma às minorias, num tipo de comportamento que já fez o Brasil perder parte de sua diversidade cultural. E rebateu o argumento de que as vítimas e testemunhas já haviam sido ouvidas em português em outras fases do processo.
- Não é por que foi feito errado outras vezes que o problema pode repetir-se. É como dizer que, se eu invado a sua casa uma vez, posso invadi-la sempre - compara.
Sociolinguística
O professor José Ribamar Bessa Freire lembra que, mesmo para pessoas com boa formação em português, a linguagem usada nos tribunais pode ser de difícil compreensão, por ser hermética. Freire faz parte do grupo de trabalho de sociolinguística da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (Anpoll), é consultor do MEC para educação indígena e coordena o programa de estudos dos povos indígenas da Faculdade de Educação da Uerj.
O pesquisador compara o caso aos estrangeiros presos nos aeroportos, que têm o direito de defender-se em sua língua materna, mesmo quando tenham noções de português, obtidas no contato com outros presos.
- Gostaria que a juíza fosse chamada a responder a uma corte internacional e lá a impedissem de defender-se em português. Mesmo com fluência em outros idiomas, vai sentir uma dificuldade semelhante à que está impondo aos guaranis - diz.
Direito guarani
Línguas indígenas já são reconhecidas como cooficiais em países como Peru, Equador e Bolívia. Mas um fosso separa as concepções de Direito das culturas locais. Um juiz argentino, Manoel Moreira, chegou a fazer um estudo sobre a cultura jurídica guarani e mostrou como há diferenças conceituais com o Direito trazido por portugueses e espanhóis.
- Ele cita o caso de uma índia de 40 anos que matou outra, de 15, a facadas. Na Justiça não índia, ela foi condenada. Depois que cumpriu pena, voltou à tribo e foi julgada com base na cultura guarani. Acabou inocentada e o marido, que havia tido um relacionamento com a garota, condenado - exemplifica Freire.
Na sua língua
O linguista explica que o conceito de Justiça dos guaranis está na solução de conflitos e não na punição do causador do dano. Para ele, a imposição do direito alheio já seria em si uma violência e uma arbitrariedade.
- Aceitar que eles se comuniquem em sua língua materna é uma forma de fugir de um julgamento preconceituoso, pois reduz a impotência do índio perante a Justiça e lhe dá confiança. Isso é fundamental para quem está em busca da verdade real - opina Freire.
Ele destaca que, mesmo sem as diferenças culturais que separam índios e não índios, é mais fácil para as pessoas se comunicarem em sua língua materna, na qual pensam
e sonham.
- Poucos alcançam um nível de bilinguismo que lhes dá a capacidade de raciocinar em um segundo idioma, de coordenação. Geralmente, há uma subordinação à língua materna. Mesmo dentro da subordinação, há diferentes graus de biliguismo - afirma.
Por isso, seria necessário um intérprete capaz de conhecer as nuances dos dois idiomas que estão sendo usados. O caso prossegue.
Inscrições abertas: III Encontro Nacional do GT História das Religiões e das Religiosidades (ANPUH)
Caros colegas,
Pedimos a gentileza de divulgarem o III Encontro Nacional do GT História das Religiões e das Religiosidades (ANPUH),
que acontecerá em Florianópolis, na UFSC, de 20 a 22 de outubro de 2010.
O site do evento é:
http://www.gthrr.ufsc.br/
Destacamos que já estão abertas as inscrições para comunicações (10/06/2010 a 10/07/2010) e ouvintes (10/06/2010 a 20/10/2010).
A lista de Simpósios Temáticas está disponível na página do evento e em breve disponibilizaremos as normas para o envio dos trabalhos completos.
Atenciosamente,
Artur Cesar Isaia
Pedimos a gentileza de divulgarem o III Encontro Nacional do GT História das Religiões e das Religiosidades (ANPUH),
que acontecerá em Florianópolis, na UFSC, de 20 a 22 de outubro de 2010.
O site do evento é:
http://www.gthrr.ufsc.br/
Destacamos que já estão abertas as inscrições para comunicações (10/06/2010 a 10/07/2010) e ouvintes (10/06/2010 a 20/10/2010).
A lista de Simpósios Temáticas está disponível na página do evento e em breve disponibilizaremos as normas para o envio dos trabalhos completos.
Atenciosamente,
Artur Cesar Isaia
VI Colóquio O Prazer do Texto
VI Colóquio O Prazer do Texto
ATIVIDADE DE EXTENSÃO PROMOVIDA PELO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA DA UFBA, COM APOIO DO PRONEX FILOSOFIA E CIÊNCIAS (FAPESB/CNPq)
– 09 a 13 de agosto de 2010, no Auditório do CRH/FFCH, em São Lázaro –
A filosofia guarda uma relação singular com sua história, sempre retornando a seus textos clássicos para afirmar sua identidade e possível sentido. Com efeito, na leitura dos textos filosóficos (e ademais na leitura filosófica de certos textos), constituem-se problemas, vocabulários e mesmo estilos próprios e distintos. Lançamos, assim, com este ciclo de palestras, diversos convites à leitura de textos relevantes para a filosofia. Afinal, bem o sabemos, o prazer de um texto clássico cuidadosamente lido é parte substancial do que, em nosso caso, alimenta e realiza a unidade entre competência profissional e vocação filosófica.
Abertura
(às 10 horas do dia 09/08/2010):
Apresentação do Colóquio, por João Carlos Salles (UFBA).
Conferência de abertura: “Contraponto Heidegger Wittgenstein”, por José Arthur Giannotti (USP/CEBRAP).
Palestras
(De 09 a 13 de agosto, em turnos de 9 às 12 e de 14 às 17hs. Início na tarde de 09 de agosto):
“A poética, de Aristóteles”, por Sílvia Faustino de Assis Saes (UFBA).
“A brevidade da vida, de Sêneca”, por Marina Cavicchioli (UFBA).
“O mestre, de Agostinho”, por Eduardo Chagas Oliveira (UEFS).
“Ente e essência, de Tomás de Aquino”, por Márcio Damin Custódio (UFBA).
“Sermões alemães, de Mestre Eckhart”, por Nancy Mangabeira Unger (UFBA).
“Mensageiro das estrelas, de Galileu”, por Júlio Celso Ribeiro de Vasconcelos (UEFS).
“Tratado das sensações, de Condillac”, por Carlota Ibertis (UFBa).
“O conflito das faculdades, de Kant”, por Daniel Tourinho Peres (UFBA).
“A democracia na América, de Tocqueville”, por Paulo Fábio Dantas Neto (UFBA).
“A origem das espécies, de Darwin”, por Charbel El-Hani (UFBA).
“A origem da família, da propriedade privada e do estado, de Engels”, por Mauro Castelo Branco de Moura (UFBA).
“Os chistes e sua relação com o inconsciente, de Freud”, por Sérgio Fernandes (UFRB).
“O mal-estar na civilização, de Freud”, por Angélia Teixeira (UFBA).
“Teoria atômica e a descrição da natureza, de Niels Bohr”, por Olival Freire Jr. (UFBA).
“Ser e ter, de Gabriel Marcel”, por Luciano Costa Santos (UNEB).
“A vontade de saber, de Foucault”, por Ricardo Calheiros Pereira (UFBA).
“O princípio responsabilidade, de Hans Jonas”, por Lourenço Leite (UFBA).
“A transfiguração do lugar comum, de Arthur Danto”, por Rosa Gabriella Castro Gonçalves (UFBA).
“O eu despertado, de Roberto M. Unger”, por José Crisóstomo de Souza (UFBA).
Inscrições e informações: de 16 de junho a 09 de agosto de 2010, das 8:30 às 12:30 horas, na Secretaria da FFCH, em São Lázaro. Tel. 3283.6431
ATIVIDADE DE EXTENSÃO PROMOVIDA PELO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA DA UFBA, COM APOIO DO PRONEX FILOSOFIA E CIÊNCIAS (FAPESB/CNPq)
– 09 a 13 de agosto de 2010, no Auditório do CRH/FFCH, em São Lázaro –
A filosofia guarda uma relação singular com sua história, sempre retornando a seus textos clássicos para afirmar sua identidade e possível sentido. Com efeito, na leitura dos textos filosóficos (e ademais na leitura filosófica de certos textos), constituem-se problemas, vocabulários e mesmo estilos próprios e distintos. Lançamos, assim, com este ciclo de palestras, diversos convites à leitura de textos relevantes para a filosofia. Afinal, bem o sabemos, o prazer de um texto clássico cuidadosamente lido é parte substancial do que, em nosso caso, alimenta e realiza a unidade entre competência profissional e vocação filosófica.
Abertura
(às 10 horas do dia 09/08/2010):
Apresentação do Colóquio, por João Carlos Salles (UFBA).
Conferência de abertura: “Contraponto Heidegger Wittgenstein”, por José Arthur Giannotti (USP/CEBRAP).
Palestras
(De 09 a 13 de agosto, em turnos de 9 às 12 e de 14 às 17hs. Início na tarde de 09 de agosto):
“A poética, de Aristóteles”, por Sílvia Faustino de Assis Saes (UFBA).
“A brevidade da vida, de Sêneca”, por Marina Cavicchioli (UFBA).
“O mestre, de Agostinho”, por Eduardo Chagas Oliveira (UEFS).
“Ente e essência, de Tomás de Aquino”, por Márcio Damin Custódio (UFBA).
“Sermões alemães, de Mestre Eckhart”, por Nancy Mangabeira Unger (UFBA).
“Mensageiro das estrelas, de Galileu”, por Júlio Celso Ribeiro de Vasconcelos (UEFS).
“Tratado das sensações, de Condillac”, por Carlota Ibertis (UFBa).
“O conflito das faculdades, de Kant”, por Daniel Tourinho Peres (UFBA).
“A democracia na América, de Tocqueville”, por Paulo Fábio Dantas Neto (UFBA).
“A origem das espécies, de Darwin”, por Charbel El-Hani (UFBA).
“A origem da família, da propriedade privada e do estado, de Engels”, por Mauro Castelo Branco de Moura (UFBA).
“Os chistes e sua relação com o inconsciente, de Freud”, por Sérgio Fernandes (UFRB).
“O mal-estar na civilização, de Freud”, por Angélia Teixeira (UFBA).
“Teoria atômica e a descrição da natureza, de Niels Bohr”, por Olival Freire Jr. (UFBA).
“Ser e ter, de Gabriel Marcel”, por Luciano Costa Santos (UNEB).
“A vontade de saber, de Foucault”, por Ricardo Calheiros Pereira (UFBA).
“O princípio responsabilidade, de Hans Jonas”, por Lourenço Leite (UFBA).
“A transfiguração do lugar comum, de Arthur Danto”, por Rosa Gabriella Castro Gonçalves (UFBA).
“O eu despertado, de Roberto M. Unger”, por José Crisóstomo de Souza (UFBA).
Inscrições e informações: de 16 de junho a 09 de agosto de 2010, das 8:30 às 12:30 horas, na Secretaria da FFCH, em São Lázaro. Tel. 3283.6431
Certificados do III Seminário Preconceito na Fala, Preconceito na Cor
Os certificados do III Seminário Preconceito na Fala, Preconceito na Cor estarão disponíveis nos dias 18 de junho (pela manhã), 21 e 22 de junho (pela manhã) na biblioteca da UCSAL - Lapa - Salvador.
Os certificados serão entregues mediante a assinatura do portador.
Até lá!
Os certificados serão entregues mediante a assinatura do portador.
Até lá!
sábado, 12 de junho de 2010
Sobre os certificados do III Seminário Preconceito na Fala, Preconceito na Cor
Comunicamos àqueles que participaram do III Seminário Preconceito na Fala, Preconceito na Cor - 2010 que, a partir de 15 de junho disponibilizaremos os certificados de acordo com as várias modalidades de participação. Informaremos local, data e prazo de entrega.Lembramos que estamos recebendo o texto completo até o dia 15/06/2010.
Muito obrigada! Até lá!
Muito obrigada! Até lá!
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Atenção linguistas - o Português falado - Ataliba Castilho, um dos maiores linguistas do Brasil
O linguista conta como fez sua gramática registrando a fala espontânea
Redação Época
ÉPOCA – Como foi feita a pesquisa que deu origem a sua gramática?
Ataliba de Castilho – Fui acumulando esse conhecimento durante meus 50 anos de magistério. Li toda a produção brasileira dos últimos 30 anos sobre o assunto, boa parte dela com minha participação. Estava na hora de colocar tudo isso na forma de gramática, um tipo de texto que as pessoas já sabem do que se trata. O livro é o resultado da leitura e da interpretação desses trabalhos.
ÉPOCA – Na prática, como ela deve ser usada?
Castilho – É para o estudo nos cursos de letras e também para o ensino médio. A novidade desse texto é que ele convida as pessoas a pensar. O estilo normal das gramáticas é como o de Moisés quando faz revelações ao povo. Quis fazer um texto mais argumentativo. Exponho dados, faço análises sobre eles e depois questiono o leitor: “Que tal analisar esse fato de outro jeito?”.
ÉPOCA – Quais são as diferenças entre sua gramática e as gramáticas comuns?
Castilho – É uma questão de ênfase. O gramático visa a ensinar as pessoas a evitar o erro, a praticar o português correto. A minha não é desse tipo. Retrato o português do Brasil, é um registro de como se fala aqui. Não estou preocupado com o certo ou o errado. Quero mostrar como a língua é, com suas variedades. É a língua sem o Photoshop, que se distancia da norma padrão.
ÉPOCA – Essa não é uma questão mais política do que linguística?
Castilho – Tudo na linguagem é política. O futuro da língua portuguesa repousa no Brasil. Os estrangeiros querem aprender o português do Brasil, porque é conosco que eles fazem comércio.
ÉPOCA – De que maneira usar a gramática no ensino médio se ela se distancia da norma culta?
Castilho – Quero um novo modo de fazer gramática e de fazer ciência no Brasil. Desde que comecei a lecionar, aos 22 anos, esse é meu desejo. O ensino de hoje se fundamenta no certo e no errado. Mas isso não tem dado resultado. A avaliação de que “menas” está errado é algo de hoje, não necessariamente de amanhã. Na sala de aula, é preciso que se reflita sobre a língua, e não ensinar o português – isso o aluno já sabe. Se o aluno que domina a variante popular voltar para o ambiente familiar falando a norma culta, haverá uma ruptura da identidade linguística. Ao expor as possibilidades de fala, explicando onde e quando se deve usar cada uma, o aluno vai ser um bilíngue em sua própria língua.
Meu pai era lavrador e minha mãe professora primária. Até os 6 anos morei na roça. Meu avô tinha uma fazenda e mandou contruir uma escola onde minha mãe trabalhava. De tempos em tempos vinha um inspetor escolar para saber se o ensino estava sendo passado de maneira correta. E ela falava “nós faremos isso no próximo semestre”, “nós fizemos tal”. Eu eu pensava, o que é isso? No dia-a-dia falávamos “a gente”, e não nós. Naquele momento, minha mãe falava de um modo tão estranho que eu achava que ela não era mais da nossa família. Ela não era doida, falava com o inspetor na língua do inpetor. Mas ali na roça, para falar com a família, a língua era outra.
ÉPOCA – Um dia teremos uma língua brasileira?
Castilho – Acho que sim, inevitavelmente. Eu diria que em 200 anos, muito mais pelo afastamento do português europeu do que pelo afastamento do português brasileiro. No século XVIII, os portugueses ingressaram num novo ritmo de pronúncia das palavras. Passaram a engolir as vogais muito mais do que aqui. Eles se afastam cada vez mais, e ninguém sabe a razão disso.
ÉPOCA – A internet muda a língua?
Castilho – A escrita vai se marcar pelas propriedades do meio. Isso não é espantoso. Quando Gutenberg inventou a imprensa de tipos móveis, no século XVI, a tecnologia da escrita mudou radicalmente. Desapareceu o escriba, a pessoa treinada na grafia manual. Agora vem outra mudança, com a rapidez das abreviaturas. Não adianta olhar com receio. O lado vantajoso é que os jovens estão escrevendo muito mais.
ÉPOCA – Não é uma contradição fazer uma gramática que não é para referência?
Castilho – É um trabalho paradoxal, eu tenho consciência disso. É uma gramática, mas não é normativa. É discritiva, mas é reflexiva também. Eu dou a minha opinião, mas provoco quem lê a dar a sua. É um lance meio calvinista, eu tenho uma formação protestante presbiteriana. Nela, se você quiser falar com Deus, não precisa de um despachante, de um pastor, de um padre ou de um imagem. Você fala diretamente com Ele. É o mesmo para os muçulmanos. Eu trouxe isso para a gramática. Se você precisar saber o português, estuda você mesmo. Com ela, você terá uma orientação: o que está na minha gramática é o que o povo das letras pensou sobre o assunto nestes anos todos.
ÉPOCA – Quais são as outras diferenças entre a sua gramática e as normativas?
Castilho – Ela começa pelo texto, e não pela sentença. Houve um grande avanço nos últimos anos no estudo do texto. E quando você conversa, você está produzindo um texto. Se eu começar pela sentença, estou começando pela metade. As gramáticas tratam do som, da palavra e da sentença. Mas a língua não é só som, palavra e sentença. É muito mais complicado do que isso, procurei enfrentar essa complexidade natural das letras. Isso está governando o nosso modo de produzir sentenças e de escolher as palavras e de produzir os sons.
ÉPOCA – Por que o português do Brasil se distanciou tanto da sua origem?
Castilho – O português que os portugueses trouxeram para cá com toda certeza é esse que falamos hoje. Conservamos o ritmo espaçado, o chamado português médio, última fase do português arcaico. Os portugueses vieram para cá em 1932 e começaram a colonizar o Brasil por São Vicente, depois vieram para Santo André, São Paulo e aí vieram os bandeirantes, espalhando a língua por aí. Os colonos do Brasil falavam muito como nós falamos. Os protugueses mudaram do XVIII para frente, tomaram outro rumo. Nós mudamos também.
ÉPOCA – A unificação do Acordo Ortográfico não vai um pouco contra o que o senhor estuda?
Castilho – Seria se a gente desconsiderasse as variantes. Ela admitiu as duas grafias, foi uma coisa equilibrada. Se você pensar bem, quanto menos sinais tiver, não é melhor?
Redação Época
ÉPOCA – Como foi feita a pesquisa que deu origem a sua gramática?
Ataliba de Castilho – Fui acumulando esse conhecimento durante meus 50 anos de magistério. Li toda a produção brasileira dos últimos 30 anos sobre o assunto, boa parte dela com minha participação. Estava na hora de colocar tudo isso na forma de gramática, um tipo de texto que as pessoas já sabem do que se trata. O livro é o resultado da leitura e da interpretação desses trabalhos.
ÉPOCA – Na prática, como ela deve ser usada?
Castilho – É para o estudo nos cursos de letras e também para o ensino médio. A novidade desse texto é que ele convida as pessoas a pensar. O estilo normal das gramáticas é como o de Moisés quando faz revelações ao povo. Quis fazer um texto mais argumentativo. Exponho dados, faço análises sobre eles e depois questiono o leitor: “Que tal analisar esse fato de outro jeito?”.
ÉPOCA – Quais são as diferenças entre sua gramática e as gramáticas comuns?
Castilho – É uma questão de ênfase. O gramático visa a ensinar as pessoas a evitar o erro, a praticar o português correto. A minha não é desse tipo. Retrato o português do Brasil, é um registro de como se fala aqui. Não estou preocupado com o certo ou o errado. Quero mostrar como a língua é, com suas variedades. É a língua sem o Photoshop, que se distancia da norma padrão.
ÉPOCA – Essa não é uma questão mais política do que linguística?
Castilho – Tudo na linguagem é política. O futuro da língua portuguesa repousa no Brasil. Os estrangeiros querem aprender o português do Brasil, porque é conosco que eles fazem comércio.
ÉPOCA – De que maneira usar a gramática no ensino médio se ela se distancia da norma culta?
Castilho – Quero um novo modo de fazer gramática e de fazer ciência no Brasil. Desde que comecei a lecionar, aos 22 anos, esse é meu desejo. O ensino de hoje se fundamenta no certo e no errado. Mas isso não tem dado resultado. A avaliação de que “menas” está errado é algo de hoje, não necessariamente de amanhã. Na sala de aula, é preciso que se reflita sobre a língua, e não ensinar o português – isso o aluno já sabe. Se o aluno que domina a variante popular voltar para o ambiente familiar falando a norma culta, haverá uma ruptura da identidade linguística. Ao expor as possibilidades de fala, explicando onde e quando se deve usar cada uma, o aluno vai ser um bilíngue em sua própria língua.
Meu pai era lavrador e minha mãe professora primária. Até os 6 anos morei na roça. Meu avô tinha uma fazenda e mandou contruir uma escola onde minha mãe trabalhava. De tempos em tempos vinha um inspetor escolar para saber se o ensino estava sendo passado de maneira correta. E ela falava “nós faremos isso no próximo semestre”, “nós fizemos tal”. Eu eu pensava, o que é isso? No dia-a-dia falávamos “a gente”, e não nós. Naquele momento, minha mãe falava de um modo tão estranho que eu achava que ela não era mais da nossa família. Ela não era doida, falava com o inspetor na língua do inpetor. Mas ali na roça, para falar com a família, a língua era outra.
ÉPOCA – Um dia teremos uma língua brasileira?
Castilho – Acho que sim, inevitavelmente. Eu diria que em 200 anos, muito mais pelo afastamento do português europeu do que pelo afastamento do português brasileiro. No século XVIII, os portugueses ingressaram num novo ritmo de pronúncia das palavras. Passaram a engolir as vogais muito mais do que aqui. Eles se afastam cada vez mais, e ninguém sabe a razão disso.
ÉPOCA – A internet muda a língua?
Castilho – A escrita vai se marcar pelas propriedades do meio. Isso não é espantoso. Quando Gutenberg inventou a imprensa de tipos móveis, no século XVI, a tecnologia da escrita mudou radicalmente. Desapareceu o escriba, a pessoa treinada na grafia manual. Agora vem outra mudança, com a rapidez das abreviaturas. Não adianta olhar com receio. O lado vantajoso é que os jovens estão escrevendo muito mais.
ÉPOCA – Não é uma contradição fazer uma gramática que não é para referência?
Castilho – É um trabalho paradoxal, eu tenho consciência disso. É uma gramática, mas não é normativa. É discritiva, mas é reflexiva também. Eu dou a minha opinião, mas provoco quem lê a dar a sua. É um lance meio calvinista, eu tenho uma formação protestante presbiteriana. Nela, se você quiser falar com Deus, não precisa de um despachante, de um pastor, de um padre ou de um imagem. Você fala diretamente com Ele. É o mesmo para os muçulmanos. Eu trouxe isso para a gramática. Se você precisar saber o português, estuda você mesmo. Com ela, você terá uma orientação: o que está na minha gramática é o que o povo das letras pensou sobre o assunto nestes anos todos.
ÉPOCA – Quais são as outras diferenças entre a sua gramática e as normativas?
Castilho – Ela começa pelo texto, e não pela sentença. Houve um grande avanço nos últimos anos no estudo do texto. E quando você conversa, você está produzindo um texto. Se eu começar pela sentença, estou começando pela metade. As gramáticas tratam do som, da palavra e da sentença. Mas a língua não é só som, palavra e sentença. É muito mais complicado do que isso, procurei enfrentar essa complexidade natural das letras. Isso está governando o nosso modo de produzir sentenças e de escolher as palavras e de produzir os sons.
ÉPOCA – Por que o português do Brasil se distanciou tanto da sua origem?
Castilho – O português que os portugueses trouxeram para cá com toda certeza é esse que falamos hoje. Conservamos o ritmo espaçado, o chamado português médio, última fase do português arcaico. Os portugueses vieram para cá em 1932 e começaram a colonizar o Brasil por São Vicente, depois vieram para Santo André, São Paulo e aí vieram os bandeirantes, espalhando a língua por aí. Os colonos do Brasil falavam muito como nós falamos. Os protugueses mudaram do XVIII para frente, tomaram outro rumo. Nós mudamos também.
ÉPOCA – A unificação do Acordo Ortográfico não vai um pouco contra o que o senhor estuda?
Castilho – Seria se a gente desconsiderasse as variantes. Ela admitiu as duas grafias, foi uma coisa equilibrada. Se você pensar bem, quanto menos sinais tiver, não é melhor?
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