quinta-feira, 7 de novembro de 2013

ANEXOS - OFICINA DE TEXTOS OFICIAIS - A LINHA DE PRODUÇÃO DE TEXTOS



A linha de produção de textos - Revista Língua, Ano 8, n. 90. 2013.

ANEXOS - OFICINA DE TEXTOS OFICIAIS - DOCUMENTOS - SEC XVII e XVIII

 Comunicado assinado pela Sóror Joana Angélica de Jesus, Convento da Lapa - Ba.
 SANTOS, Antonia da Silva. Dissertação de Mestrado, 2004

Procuração  - documento escrito pela Sóror Joana Angélica de Jesus

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OFICINA DE TEXTOS OFICIAIS - Textos utilizados




SEMINARIO PRECONCEITO NA FALA, PRECONCEITO NA COR
OFICINA DE TEXTOS OFICIAIS
06 de novembro de 2013.



l. Apresentação
        O I Semínário Preconceito na Fala, Preconceito na Cor foi realizado num contexto escolar público, atingindo cerca de 400 (quatrocentos) estudantes, durante três manhãs. Pode ser sintetizado desta forma:
         Fatos motivadores: insulto verbal, discriminação, exclusão
         Atores sociais: direção e alunos
         Objetivos:
         a. apresentar um trabalho conclusivo de um curso – Gênero e Diversidade (NEIM – UFBA);
         b. esclarecer aos professores e estudantes sobre as diferentes manifestações de discriminação e preconceito.
    O II Seminário aconteceu an Sociedade Protetora dos Desvalidos:

  • Cenário: Associação negra
  • Fato motivador: estrutura física histórica e centenária
  • Atores sociais: associados
  • Objetivos:
  • a. promover situações e troca de informações - estudioso X associados X público
  • b. resgatar um processo histórico-cultural da associação em questão.
    O III Seminário ocorrido em 2010, foi sediado pela Casa de Angola, na Cidade do Salvador:
  • Cenário: Associação negra
  • Fato motivador: estrutura física histórica e centenária
  • Atores sociais: associados
  • Objetivos:
  • a. promover situações e troca de informações - estudioso X associados X público
  • b. resgatar um processo histórico-cultural da associação em questão.
     Em 2011, foi realizado um ciclo de Palestras atingindo oito (08) professores envolvidos com a temática.
     Em 2013, estamos realizando a Oficina de Texotos Oficiais, na Biblioteca Pública do Estado da Bahia.


2. Uma visão sociolinguística com a linguagem formal e a linguagem informal

2.1 Uma escola que provoca...

     O ensino no Brasil ainda não alcançou o êxito que se espera dele e uma de suas principais causas é a dificuldade da escola em ensinar a Língua Portuguesa para alunos das classes sociais menos favorecidas. Durante muito tempo, o ensino rejeitou a chamada norma inculta que o aluno trazia do seu meio de origem, do local de seu nascimento e de sua vivência e convivência, desrespeitando, desse modo, a variedade lingüística diferente daquela que é considerada culta pelas classes de maior prestígio social.[1]

     A partir de 1980, a variação linguística começou a ser levada em consideração. No entanto, se analisarmos os manuais didáticos, vemos que a maioria dedica ao máximo duas páginas ao fenômeno da variação, as quais compreendem o conceito e os tipos de variação, enquanto o restante do texto mantém o ensino da norma culta da língua, com a proposta de regras gramaticais da língua escrita, muitas vezes distante da realidade da vida do aprendiz.[2]

     Ainda hoje, o que se percebe é que o professor de Língua Portuguesa está mais preocupado com o ensino a respeito  da Língua Portuguesa do que com o ensino do uso da Língua Portuguesa. A concepção que o professore tem do n é que ele é o caminho para o domínio da norma culta e que ensinar a língua portuguesa é ensinar a falar, a ler e a escrever nos padrões da norma privilegiada socialmente.[3]

     Em virtude de razões políticas, econômicas e sociais, os grupos dominantes elegem uma variedade consideradas de prestígio, variedade padrão, ou seja, “aquela usada na literatura, nos meios de comunicação, nas leis e decretos do governo, ensinada nas escolas, explicadas nas gramáticas, definida os dicionários. É a chamada “padrão”, que se opõe às variedades não prestigiadas, “não padrão”, ou seja, “multiplicidade de variedades de uma língua que não condiz com a padrão.[4]

     A variedade não padrão, que diz respeito às diferentes línguas usadas em  função da região geográfica, classe social, faixa etária e nível de escolarização, é vítima de preconceitos. A variedade padrão, cujo uso é requerido em situações de interação determinadas, em função da formalidade da situação, do assunto tratado, da relação entre interlocutores etc. , é socialmente mais valorizada. Chamada também de norma culta ou língua culta, essa variedade – não é a língua original, posta em circulação como impõe o senso comum, da qual os falantes se apropriam como podem ou são capazes – é  o resultado de uma atitude social ante a língua, que se traduz, de um lado, pela seleção de um dos modos de falar entre os vários existentes na comunidade e, de outro, pelo estabelecimento de um conjunto de normas que definem o modo “correto” de falar.[5]
 
     É dito por Lemle, de forma tal que se possa lembrar e refletir sobre os diferentes papéis exercidos pelo professor, além de seu conhecimento e até mesmo, desconhecido:”a  missão do professor é a de conduzir os alunos para a aquisição da flexibilidade lingüística necessária ao desempenho linguístico adequado às diferentes situações de atos comunicativos.”

     O objetivo do ensino da Língua Portuguesa a ser proposto deve ser: “Aprenda a norma culta além do português que você fala, e utilize um ou outro segundo as circunstâncias.[6]
      Afirma-se que o tão propagado rebaixamento do nível de ensino decorre principalmente desse conflito, não tendo acesso ao domínio da variedade lingüística de prestígio, da mesma forma como não Têm acesso a degraus mais elevados na escala social, as camadas populares que freqüentam escola., saem dela sem alterar o seu padrão lingüístico e, ainda vêem rejeitada a variedade da língua que empregam.[7]
    
     O ensino de português no Brasil sempre se prendeu ao domínio da gramatica, válida, rica e correta, que é chamada norma culta. Há uma pressão social forte sobre a escola para que o aluno aprenda toda a gramática como garantia de que esse é o “caminho para escrever e falar bem. Neste sentido, a nossa visão de escola é que:


                                ” A escola passa à sociedade a idéia de que escrever   bem é a escrever correto e a sociedade cobra da escola que ensine a escrever correto, num movimento circular que é raramente quebrado.”


     O problema está na consideração do que seja correto na fala e na escrita. A língua é constituída de um conjunto de normas, registros e dialetos, os quais, linguisticamente falando, têm a mesma força expressiva e beleza. A consideração de que uma forma é superior à outra é apenas uma questão de ordem social.

     A escola pode e deve ensinar bem a norma considerada padrão ou culta da língua, sem, no entanto, estigmatizar a norma de domínio das crianças provenientes de meio familiar meio instruído. Caminhando nessa direção é que a escola deve, no ensino de língua materna, criar condições para que os alunos possam apropriar-se da língua em todas as suas possibilidades comunicativas para ter meios de expressão de sua subjetividade falando e escrevendo textos que lhe permitam dizer-se presentes no mundo e participar do jogo social de forma ativa e crítica[8].

    O fenômeno da variação lingüística exige do professor bastante clarividência, para descobrir que o objetivo do ensino da língua materna  é o aprimoramento das habilidades lingüísticas de que cada criança é portadora quando ingressa na escola.

     A escola não tem conseguido trabalhar bem a idéia de que não existe superioridade de uma variedade de língua sobre as demais. O que existe mesmo é a valorização maior de uma variedade de língua sobre as demais. O que existe é a valorização maior de uma norma pela camada social de maior prestígio. E ao conhecer e refletir sobre o jogo social, o professor deixará de ser intolerante em relação ao linguajar dos alunos, de todas as classes sociais e criará condições para que todos também se sintam donos da língua, para fazer dela sua forma de ação sobre o Outro e sobre o mundo.

     Cabe ao professor e à professora de Língua Portuguesa uma reeducação lingüística de seus alunos, ou seja, formar cidadãos e cidadãs conscientes da complexidade da dinâmica social, conscientes das múltiplas escolas de valores que empregamos a todo momento em nossas relações com as outras pessoas por meio da linguagem, pois se tenta ocultar dos aprendizes a realidade variável e mutante de sua língua (mesmo que seja em sua “variedade culta”., como um sistema estável e heterogêneo.[9]



     É dito que a norma padrão é a variante mais prestigiada pela sociedade, entretanto, é dominadora e controladora do acesso aos bens culturais e ao poder aquisitivo. Vale lembrar que
é preciso valorizar a norma de cada um, que é a norma de sua região, ou seja, é a marca de identidade cultural, ou seja, é a marca de identidade cultura de seu grupo.[10] Esse argumento é reforçado por inúmeros estudiosos, a exemplo de Mattos e Silva (1995:33):

A escola brasileira ainda que pseudodemocratizada, no que diz respeito à língua materna, persegue, no geral, a tradição normativa prescritiva. A conseqüência disso para quem tenha algum verniz de formação linguística é óbvia: muitas e variadas falas, muitas e variadas normas, chegam à escola e esta persegue ainda um ideal normativo tradicional.

     A concepção de “correto” varia muito. Existem aquelas falantes que pensam em “modernizar a língua; outros acham que é necessária uma limitação do liberalismo e outros, ainda, condenam qualquer coisa que não esteja prevista na “norma culta”, que eles mesmos não sabem o que é...

2.2 Linguagem formal e linguagem informal  

      Muito se discute se desvios em relação à norma gramatical devem ser considerados sinais de evolução da língua ou meros erros de português. Como em tudo na vida, parece que também neste caso vale a máxima latina "virtus in medio": há desvios que representam evolução e denunciam o anacronismo das gramáticas, assim como há deslizes resultantes de descuido ou ignorância.

      Muitos estudiosos evitam usar o termo "erro", preferindo falar em inadequação. Seja como for, o uso inadequado de uma forma linguística em contexto que o proíbe não deixa de ser um erro - se não de gramática, de pragmática.

      Para compreender melhor a questão, devemos lembrar que a língua tem um aspecto plural (é o que se chama variação) e que, dentre as suas múltiplas facetas, ou variedades, a expressão verbal pode ser oral ou escrita, formal ou informal.

       Embora existam atos de fala formais (palestras, discursos) e textos escritos informais (bilhetes), a maioria das produções orais tende a ser informal (como os diálogos do dia a dia), e a maioria dos textos escritos tende a ser formal (livros, textos técnicos, documentos). Por isso, costuma-se estabelecer uma equivalência do tipo escrita = formalidade, fala = informalidade. Como são relativamente poucas as exceções a essa regra, vamos assumi-la aqui como verdadeira.

       Todos sabemos que a língua oral muda mais depressa do que a escrita. Que, por seu caráter espontâneo, é menos planejada que uma redação. Que, sendo informal e fugaz, é menos monitorada, mais livre, menos submissa a regras - exceto as do próprio uso, que o falante aprende na própria interação social.

       Ao mesmo tempo, a escrita formal se pauta por uma norma calcada em modelos do passado, por isso mesmo conservadora e por vezes defasada. Isso faz com que muitos autores deliberadamente desconsiderem algumas regras da gramática em prol de um texto mais claro e familiar ao leitor contemporâneo (como eu mesmo fiz neste parágrafo, ao usar "se pauta" em lugar de "pauta-se").

      No entanto, há uma diferença entre o redator que emprega conscientemente a próclise por entender que essa colocação pronominal é mais moderna e funcional do que a ênclise e aquele que, tentando redigir de modo extremamente culto, emprega a ênclise quando não deveria ("a pessoa que cuida-se vive melhor; lei não discute-se, cumpre-se"), fenômeno chamado de hiperurbanismo.

     Evidentemente, muitas inovações surgidas no âmbito da oralidade ganham cedo ou tarde a adesão de autores de textos cultos, e é natural e salutar que assim seja. Mas nem tudo o que faz parte da fala popular pode ou deve ser incorporado à norma culta. Tampouco os desvios resultantes do hiperurbanismo podem ser vistos como sinais de evolução. Quando encontramos em textos jornalísticos construções como "Sem darem explicações, os membros da comissão se retiraram do plenário" ou "O Ministro falou também que não há risco da inflação voltar", ou ainda "Para se ter educação de qualidade, é preciso remunerar bem os professores", o que temos não é modernização e racionalização da norma, é inadequação mesmo, fruto da inabilidade em manipular com elegância o código e suas regras. Algumas dessas construções, embora até sejam abonadas por gramáticas, revelam falta de estilo e de familiaridade com a prática de escrever no registro formal. "Darem" em vez de "dar", "falou" como sinônimo de "disse", "risco da inflação voltar" em lugar de "risco de a inflação voltar", "para se ter" por "para ter", tudo isso mostra que, se de um lado a gramática normativa precisa se atualizar, incorporando o que de bom a fala atual tem a oferecer, de outro, a educação precisa melhorar muito, pois a virtude sempre estará no meio: nem escrever como Machado de Assis o fazia no século 19 nem como falam os habitantes da periferia.

     O dia em que tivermos uma norma padrão atualizada, dotada tanto quanto possível de regras fáceis, lógicas e com poucas e bem justificadas exceções, bem como tivermos um ensino de língua portuguesa de qualidade e acessível a todos, o desvio da norma, salvo por razões estilísticas ou humorísticas, poderá ser com justiça recriminado sem que isso constitua preconceito.

  (www.portuguesemdestaque.blogspot.com)

3. APRESENTAÇÃO DE ALGUNS CONCEITOS: ALGUNS DOCUMENTOS

3.1  O conceito de gênero textual e seu uso em aula
     Para trabalhar com gêneros nas aulas, deve-se ter atenção às razões de sua escolha, às características e às funções do tipo selecionado. Isso é essencial para elaborar bons planos de aula e para que esses resultem em relatos de experiência excelentes.

Do bilhete à poesia, a estabilidade de cada gênero se manifesta por suas características comuns


Como nos ensina Bakhtin, gêneros textuais definem-se principalmente por sua função social. São textos que se realizam por uma (ou mais de uma) razão determinada em uma situação comunicativa (um contexto) para promover uma interação específica. Trata-se de unidades definidas por seus conteúdos, suas propriedades funcionais, estilo e composição organizados em razão do objetivo que cumprem na situação comunicativa.

Explicando melhor: isso significa que, a cada vez
que eu produzo um texto, seleciono um gênero...

... em função daquilo que desejo comunicar;

... em função do efeito que desejo produzir em meu interlocutor;

... em função da ação que desejo produzir no meio em que me inscrevo.

     Isso vale das trocas mais prosaicas do cotidiano, nos bilhetes registrados em post-its colados nas geladeiras, passando pelas mensagens eletrônicas, entrevistas (orais e escritas), bulas de remédio, orações, cordéis, dissertações, romances, piadas etc. Uma das principais características dos gêneros é o fato de serem enunciados que apresentam relativa estabilidade. É esse aspecto que permite, justamente, com que sejam compreendidos.

     Um exemplo extremo disso está no gênero "bula de remédio". Nos idos dos anos 1980, a linguista francesa Sophie Moirand mostrou como a estabilidade desse tipo de enunciado permitiria que qualquer falante do francês sem conhecimento nenhum de grego pudesse localizar informações (nome comercial, princípio ativo e posologia, por exemplo). 

     Para trabalhar com gêneros nas aulas, deve-se ter atenção às razões de sua escolha, às características e às funções do tipo selecionado. Isso é essencial para elaborar bons planos de aula e para que esses resultem em relatos de experiência excelentes.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) atestam a importância do gênero para o ensino de Língua Portuguesa.


     Para começar, vale a pena expor uma breve história do conceito de gênero. Como nos ensina o linguista Luiz Antônio Marcuschi no artigo "Gêneros textuais: definição e funcionalidade", presente no livro Gêneros textuais & ensino, os gêneros são formas presentes já em povos de cultura essencialmente oral, e passam a se multiplicar com o advento da escrita alfabética por volta do século 7 a.C.

     Isso significa que tratar da gênese dos gêneros implica falar da relação com o homem com a linguagem ao longo de toda a história. Como defende o célebre filósofo da linguagem Mikhail Bakhtin (1895-1975), só nos comunicamos por meio de gêneros.

     A apropriação do conceito pelo ensino, porém, é bem mais recente. Nesse sentido, merecem destaque os trabalhos dos pesquisadores Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz, da Universidade de Genebra. No Brasil, um marco importante são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), de 1998. No documento, a organização curricular em Língua Portuguesa dos anos equivalentes ao Ensino Fundamental 2 aparece estruturada sobre o conceito de gênero textual. 

     A partir de então, cresce o interesse pelo conceito e sua aplicação em sala. Uma das semelhanças diz respeito ao fato de que, em parte significativa dos projetos, havia interesse comum pelo desenvolvimento de propostas orientadas pela noção de gênero textual. Quem deseja trilhar esse caminho deve ter consciência de suas escolhas, levando em conta aspectos que abordarei a seguir.
·         Enumerei uma série de gêneros (bilhete informal, bula de remédio, dissertações etc.) e poderia seguir numa lista virtualmente infindável, pois justamente uma das características dos gêneros textuais reside em sua transmutabilidade - ou seja, novas formas geradas a partir de formas já existentes.

Por exemplo: é possível considerar que um correio eletrônico guarda muitos traços comuns com a carta que costumávamos mandar pelo correio. Essa origem pode mesmo ser atestada pelo nome em português (correio eletrônico), em inglês (e-mail, abreviação para electronic mail) ou em francês (courrielcourrier para correio contraído com o adjetivo électronique).

A partir de uma disposição existente, a da carta, desenvolve-se uma forma relativamente nova, mas que guarda a familiaridade do gênero de que provém, adaptada às funções e objetivos do contexto em que é gerada. Se antes a carta estava contida em um envelope e, nele, algumas informações paratextuais (os endereços de destinador e destinatário), no gênero correio eletrônico essas informações passam a constar da mensagem, ainda que de forma periférica, mas com implicações na forma como redigimos.

Pensemos na data, que no correio eletrônico consta automaticamente dos cabeçalhos, ao passo que na carta era de responsabilidade do destinador indicar no texto ou à direita no papel. Todo sistema de referências temporais se articula a partir da informação dada, que não nos cabe inserir, nem alterar, pois ela é gerada pelo servidor que envia e recebe as mensagens.
     3.2. O plano de aula e o relato de experiência como gêneros
            3.2.1 Saber  analisar e usar os gêneros : passo para  bons relatos de experiência

     Proponho, agora, analisar como as características dos gêneros - em especial sua função social, a estabilidade de enunciados e a transmutabilidade - aparecem em dois tipos de texto de fundamental importância para o professor.

     Imaginemos que tenho a tarefa de elaborar uma aula e que essa elaboração deve estar registrada em uma estrutura que permita com que eu e outros leitores compreendamos. Existe algum gênero que se ajuste a essa intenção comunicativa? Sim: trata-se de um registro de aula a ser dada, que deve conter, digamos, objetivos, suporte, tempo destinado à atividade e metodologia. A articulação desses elementos em contexto didático nos remete ao gênero
 plano de aula.

      As formas de anotação de um plano de aula variam de acordo com o professor e instituição, principalmente de acordo com as razões para seu registro. Mas, como regra, podemos dizer que trata-se de um plano, logo, de algo a ser realizado. Por essa razão, os verbos indicando as atividades devem aparecer no infinitivo ("debater", "dividir o grupo em duplas", "distribuir o texto para leitura", "ler" etc.) ou mesmo (para as anotações mais pessoais) no futuro simples ("debateremos", "dividirei o grupo em duplas", "distribuirei o texto para leitura", "leremos").

      Suponhamos, agora, que um professor muito contente com os resultados da aplicação de um plano de aula resolva se inscrever num concurso, por exemplo. Para que esse professor possa adequar-se à nova situação de comunicação que se apresenta a ele, é necessário que transforme o que era o registro de suas intenções (seu plano de aula) em um 
relato de experiência.

     Em outras palavras, é necessário descrever que as ações realizadas em sala de aula resultaram em uma atividade rica e transformadora de aprendizagem para seus alunos e para ele, e um dos elementos para que seja operada essa transformação é justamente a passagem dos verbos do infinitivo ou futuro (originalmente no plano de aula) para o pretérito perfeito (relato de experiência).

     Analisar nossos planos e registros da atuação em sala com consciência dos aspectos fundamentais do conceito de gênero é uma caminho frutífero para que se elaborem bons planos de aula e para que esses resultem em relatos de experiência excelentes. O convite está feito! Este texto está registrado no site da Revisa Escola, contudo, o convite é feito por mim, também... Já que nossa proposta foi em relação aos Textos Oficiais, portanto, mais formais, apresentamos alguns deles:[i]





Figura 01 – Arquivo da autora







4. Proposta de mudança lingüística: um dia,  chegaremos lá. Nós, lingüistas, esperamos.

PROPOSTA DE TRABALHO:

Cenário: uma escola pública de porte médio
Localização: bairro de classe média baixa
Atores sociais: alunos de 7ª e 8ª. séries – Ensino Fundamental, professores, outros
No. de turmas: 05 (cinco)
Total de alunos: aproximadamente, 120 (cento e vinte).

Professor Responsável: Pesquisador (a)
Professores outros: com graduação (com e sem licenciaturas);
                                  sem graduação concluída.

Dificuldades (ausência):
  1. livros didáticos
  2. gramáticas
  3. recursos tecnológicos com orientação específica de um profissional
  4. biblioteca com bibliotecária ou bibliotecário, na escola e no bairro.

Metodologia:
Uma oficina conduzida pelo professor responsável e quinze monitores (três alunos/turma), com a participação de professores, alunos, servidores públicos e de órgãos privados e pais de alunos.

A divulgação interna será feita (foi feita) a partir do colegiado, a fim de atingir o publico desejado. A divulgação externa seria (foi) através da internet e folhetos informativos.

A partir da participação dos pais e servidores, um número maior de pessoas tomaria conhecimento de forma efetiva, do seu papel na sociedade e como usuário da língua falada e escrita, além do uso das novas tecnologias.

Os professores renovariam o seu papel de condutores de uma política de aprimoramento do ensino, da construção da cidadania, contribuindo com a inclusão da comunidade escolar na cultura letrada e em contato com os diversos gêneros textuais e em contato com os diversos gêneros, num ambiente favorável à formação do leitor literário, independente.


Resultados alcançados:
Pontos positivos:
Excelente aceitação dos órgãos públicos
Participação efetiva da comunidade comercial da área;

Pontos negativos:
Ausência total de participação da equipe gestora da escola;
Ausência do colegiado
(outros – ocorrendo)

Tarefas realizadas durante a oficina




[1] PERNAMBUCO, J.; CARMELINO, A.C. ; Carmelino, A.C. A intolerância linguística na escola. In: BARROS.Diana Luz Pessoa de.(Org).Preconceito e intolerância:reflexões linguístico-discursivas. 1 ed. São Paulo: Editora Mackenzie, 2011, v. 1, p. 81.
[2] Idem, p. 81.
[3] Idem, p. 81-82.
[4] BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira. São Paulo, Parábola, 2003, p. 28.
[5] LEMLE, M. (1978) Heterogeneidade dialetal: um apelo à pesquisa. Tempo Brasileiro 53/54(Linguística e Ensino do Vernáculo),  Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, p. 62.
[6] Idem, p. 62.
[7] Idibidem.
[8] PERNAMBUCO, J.; CARMELINO, A.C. ; Carmelino, A.C. A intolerância linguística na escola. In: BARROS.Diana Luz Pessoa de.(Org).Preconceito e intolerância:reflexões linguístico-discursivas. 1 ed. São Paulo: Editora Mackenzie, 2011, v. 1, p. 96.
[9] BAGNO, Marcos. Sete erros aos quatro ventos: a variação linguística no ensino de português. Parábola Editorial, 2013, p. 128.
[10] ANTUNES, Maria Irandé Costa Moraes. Muito além da gramática: por um ensino de gramática sem pedra no caminho. São Paulo, Ed. Parábola, 2007, p. 108.




[i] As outras imagens serão inseridas noutro arquivo