quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Procuradoria destituiu senadora Piedad Córdoba de suas funções por 18 anos

28.09.10 - COLÔMBIA
Procuradoria destituiu senadora Piedad Córdoba de suas funções por 18 anos
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Natasha Pitts *

Adital -
Uma decisão do Procurador Geral da Nação, Alejandro Ordóñez, tornada pública ontem (27), destituiu a senadora colombiana Piedad Córdoba de suas funções públicas por 18 anos. A senadora, conhecida por seu trabalho humanitário e pela atuação no resgate de reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) está sendo acusada de participar e favorecer esta organização paramilitar. Piedad Córdoba só soube da decisão após sua chegada em Bogotá. De acordo com comunicado de sua autoria, a senadora teve conhecimento dos fatos por meio da imprensa. Em resposta à decisão, Córdoba rebateu afirmando que "a investigação disciplinar conduzida pelo Sr. Procurador, não tem suporte probatório, mérito jurídico algum e menos ainda valor moral e ético". A senadora coloca ainda em evidência o fato de o Procurador estar sendo investigado pela Corte Suprema de Justiça.

Em abril, a Procuradoria já havia apresentado uma lista de acusações contra a senadora por ela "haver colaborado e promovido supostamente ao grupo ilegal insurgente das Farc" e por "haver realizado supostamente atos tendentes ao fracionamento da unidade nacional". Ontem, não foram apenas acusações, a Procuradoria "sancionou disciplinarmente a atual senadora Piedad Córdoba Ruíz com destituição e inabilidade pelo término de 18 anos por haver promovido e colaborado com o grupo à margem da lei, Farc".
A decisão da Procuradoria teve como base informações encontradas no computador pessoal de Raúl Reyes, líder guerrilheiro morto em 2008, considerado ‘o número dois das Farc’ e que por muito tempo foi porta-voz da organização paramilitar. No computador, supostamente foram encontradas conversas entre Reyes e Piedad, cujo codinome de guerrilha era Teodora. A partir da liberação destas informações pelo Ministério Público, a bancada uribista do Senado pediu o cargo que Córdoba ocupa no Congresso: presidente da Comissão de Paz do Senado.
Em comunicado, a senadora se defendeu. "Esta atuação na contramão da razão é mais uma mostra da perseguição política que se adiantou contra mim nos últimos 12 anos, que implicou grandes lesões a minha integridade pessoal e familiar, como meu sequestro, posterior exílio com meus filhos e filha, os atentados contra minha vida, as operações ilegais de intercepção e seguimento, de público conhecimento, as quais deveriam ser a preocupação da Procuradoria Geral da Nação", assinalou.
O Comitê de América Latina e Caribe pela defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), junto à Corporação Casa da Mulher, se pronunciaram publicamente rechaçando a decisão do Procurador. As ativistas relembraram que há anos Piedad Córdoba atua pela negociação política do conflito armado na Colômbia e que, com sua ajuda, 14 pessoas foram liberadas do domínio das Farc.
"Seu compromisso com a paz para a Colômbia teve como consequência ameaças, juízos e acusações - este é mais um -, por parte de representantes das instituições e outros setores da sociedade que fizeram eco àqueles que se opõem à paz. Manifestamos nossa indignação e nos solidarizamos com Piedad e seus compromissos pela paz e a defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres", expressaram as ativistas.
A mesma postura de apoio foi mostrada por ex-reféns das Farc e seus familiares, assim como por organizações sociais, humanitárias, defensores/as dos direitos humanos e promotores do intercâmbio humanitário, ativistas que acreditam no trabalho da senadora e que a veem como uma promotora da paz na Colômbia.